A fuga do fugitivo

A vida não parecia dar um trégua para o jovem Louis, isso se esse era mesmo o seu nome. Havia alguns dias que ele caminhava pela floresta sem saber ao certo para onde ir, mesmo por que nada garantia que ele não estava andando em círculos. A floresta era bem aberta, com grandes espaços entre as árvores, o que a deixava bem arejada e com um clima ameno. Finalmente, no terceiro dia as suas provisões acabaram e por sorte ele se deparou com o som de um riacho vindo da sua direita. Para todos os lados ele só encontrava vegetação e a terra batida coberta por folhas e restos. Sua atenção deficitada não tinha condições de encontrar os pokemons que se escondiam ao redor, os quais o seguiam silenciosamente pela sua jornada. O menino perdido precisava decidir o que iria fazer de agora em diante.

Era difícil ficar mais perdido do que eu estava neste momento. Além de eu estar há dias nessa floresta, conheço porcamente a geografia da região e não conheço muito nem sobre mim mesmo. A caminhada de dias me deixava cada vez mais exausto. Por sorte conseguia ouvir o barulho de um riacho não muito longe. Andei um pouco até chegar no mesmo. Comecei então a andar na direção de água e no caminho ficava pensando sobre tudo que sabia de fato.

Eu era como um recém-nascido. Só absorvi de fato as memórias do meu último ano e era a elas aonde me agarrava com todas as minhas forças. Elas eram toda a verdade que eu conhecia. Meu nome era Louis e eu ajudava Frank com as atividades da fazenda. Havia conseguido um conhecimento razoável em botânica e conseguia distinguir as funções das mais importantes ervas locais. Esse conhecimento era tudo que eu precisava no momento e tudo que me lembrava.

Toda essa situação era apavorante. Estar perdido, sabe? E sempre a beira da morte, tendo que sobreviver por si mesmo. Por um lado isso é bom. Uma mente ocupada evita que eu pense muito sobre o que aconteceu há três dias na fazenda. Evita que eu pense se todo mundo está bem. Evita que eu pense sobre como, sem ao menos saber porque, eu fodi a vida daquela família que foi tão boa comigo.

O barulho forte do riacho e meus pés molhados me despertaram dos meus pensamentos. Que bom: água! Sentei-me ao pé do riacho e comecei a beber o máximo que pude. Estava muito sedento para julgar se era própria para o consumo. Enquanto bebia, pensava no que fazer a seguir. Tinha que procurar alguma coisa pra comer e algum jeito de sair dali...

O menino bebia gananciosamente a água do riacho, refrescando-se naquela límpida água conforme refletia superficialmente sobre o seu passado. Os pensamentos de Louis foram interrompidos quando observou um pequeno cesto descer pela correnteza. O riacho não era muito fundo porém era largo e o cesto batia contra as rochas conforme era lançado rio abaixo. Dentro do cesto, o menino pôde observar um ovo mesclado de laranja e amarelo. Com toda certeza ele estaria em apuros. Em volta não tinha ninguém nem nenhum pokemon, somente árvores que pareciam bem altas. Somente o farfalhar das folhas e o som da água corrente quebravam a monotonia sonora do local.

Ao avistar o cesto, descendo caoticamente o riacho, entrei em desespero. Aquela criatura nem nasceu e já corria risco de vida. Parece que nesta floresta todos tem que lutar para sobreviver até quem não consegue ainda lutar. Levantei com um pulo e comecei a correr para resgatar o pobre ovo. Enquanto corria, refletia sobre meus limites e habilidades físicas. Será que no passado eu aprendi parkour ou alguma coisa útil assim? Não era agora que eu iria descobri, não era a hora apropriada também. Agora tudo que importava era pegar aquele ovo nos meus braços e mantê-lo a salvo desse mundo perigoso.

Com alguma dificuldade, Louis se encharcou jogando água para todos os lados quando escorregou numa das pedras. Nada alarmante, claro, mas ele conseguiu segurar o ovo sem muitos problemas. Ele o retirou do cesto e o abraçou com todas as suas forças. O ovo era bem quente e transmitiu, de alguma forma, certo conforto em estar longe da água. Caminhando para fora do riacho quando ele sentiu algo abaixo da sola do seu pé.

- RYUUUUUUUUUUUUUUUUUU

De repente um pequeno porco alaranjado saiu correndo de trás da moita que estava, Louis havia pisado na sua cauda sem querer. O porco tinha um cabelo amarelo em cima do corpo e olhava para Louis com uma raiva incontrolável. Nesse momento ele batia as suas patas no chão, parecia escolher o melhor local para atacar e os seus olhos se fixaram no ovo.

Arceus parecia me escutar e mandou um sinal divino me respondendo: seu bosta, você não tem nenhuma habilidade. E assim, me descobri mais desajeitado que esperava. Desajeitado a ponto de ter escorregado no riacho quase transformando o pobre ovo numa gemada. Consegui salvar o futuro Pokémon de um terrível fim. Saí do riacho e pisei em alguma coisa peludo. Para minha sorte era uma espécie de porco selvagem fulo da vida. Era muita falta de jeito minha.

-Desculpa seu porco! - gritei para o Pokémon, enquanto fugia dele.

Tínhamos muitos bichos na fazenda e eu até levava jeito com eles. Sabia domar as feras da fazenda e acalmar seus corações, mas isso daqui é a selva e tem muita coisa em jogo para eu tentar. Se algo desse errado eu poderia acabar ferido e o ovo morto. Tinha que pensar em algo rápido e prático para me livrar desse porco. Tudo seria mais fácil se eu fosse um treinador de Pokémon.

Parei na frente de uma árvore. Essa era a estratégia mais básica para se tratar com Pokémon. Atrair e... bem, basicamente usar o ambiente a seu favor. O plano era ficar na frente da árvore esperando ele avançar. Parecia ter uma fixação pelo ovo em meus braços e eu estava prestes a usar isso contra ele.

Quando estivesse prestes a me acertar, desviaria para o lado e continuaria a correr. O baque com a árvore deve ser o suficiente para desnorteá-lo por alguns segundos. O suficiente para correr. Agora era só torcer para que eu consiga ter a agilidade de por isso em ação. Esperava pelo movimento dele enquanto notava a semelhança entre a coloração de seu pelo e a do ovo que eu segurava...

Conforme corria até uma árvore, Louis sentiu o ovo dar uma chacoalhada. Assim que alcançou o tronco, ele se virou e encarou o pokemon porco que corria atrás dele. Suas pequenas patas o forçavam muito para manter uma boa velocidade, provavelmente ele era um pokemon bem novo também.


Ele se aproximava rapidamente e Louis se preparou para desviar no último instante. 3....2....1...e Tunc. O menino correu para o lado e o pokemon bateu com a cabeça na árvore como planejado. Ele deu alguns passos para trás um pouco cambaleante e piscou os seus olhos algumas vezes para tentar entender o que estava acontecendo. E então a dor assolou toda a sua feição, fazendo-o começar a chorar bem alto.

- YRUUUUUUU!!!

De repente o chão começou a tremer e raios subiam aos céus como se nuvens estivessem no chão. O ovo se moveu no colo do menino e vindo de onde eles estavam surgiu uma manada de porcos de tonalidade escura e no mínimo quatro vezes maiores do que o porquinho que chorava. Eles estavam com os olhos avermelhados e vinham com uma enorme velocidade na direção de Louis e o ovo. Das suas caudas saíam faíscas e quando elas tocavam o chão, raios eram disparados para o céu. Eles realmente pareciam bem furiosos.

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Deu um arrepio na espinha só de ver aqueles javalis enormes me encarando com um olhar furioso. Estava certo que em pouco tempo teria uma manada atrás de mim e eu estaria morto também. Não tinha muito para onde e como correr então eu estava lascado. Segurava o ovo com mais força, como se isso fosse o suficiente para protegê-lo. Precisava de algo muito criativo para sair daquela situação.

Foi quando eu parei para analisar tudo o que eu tinha a meu favor e a ideia surgiu. Por que não transformar uma fraqueza em vantagem? Segurei o ovo firme com um braço, apertando ele contra meu peito. Com a outra mão, tirei minha mochila das costas e comecei a correr tangente ao rio. Nem olhei para trás, mas aposto que aqueles javalis me perseguiam como loucos. Quando atingi velocidade suficiente, me joguei de bunda no rio.

Obviamente não queria sair todo ralado, então sentei em cima de minha mochila para que ela amortecesse tudo mais. Com minha velocidade atual mais a velocidade do riacho e o menos atrito da água em relação ao chão eu esperava deixar aqueles brutamontes para trás. E eu me agarrava a essa esperança, pois não tinha mais nada a fazer em mente.

A manada de Jabaspar estava realmente furiosa, o som dos trovões ecoavam por todo o lugar e ao fundo o choro do pequeno Ganoyru parecia irritá-los ainda mais. Pensando rapidamente, Louis se jogou no rio. A idéia de quicar como uma pedra lançada tinha sido boa, mas pouco prática, a mochila não era dura o suficiente para quicar, então no primeiro contato com a água, o menino afundou até a altura do peito. Por reflexo o ovo havia ficado fora da água e ele podia senti-lo tremer. Ele pode observar os pokemons elétricos parando na margem do rio e bufando com raiva. Alguns deles batiam a pata no chão, outros simplesmente se viraram e voltaram para cuidar do pokemon mais indefeso. Porém um deles permaneceu ali na borda e a sua expressão não era das mais confiáveis.

- Spaaaaaarrrrr....

Ele eriçou todo o seu pelo e colocou o seu rabo na superfície da água. Sua crina começou a brilhar. Algo de bom não estava vindo. Então Louis sentiu algo puxa-lo para a margem oposta. De relance ele pode ver um forte brilho de metal amarelo, algo bem grande que de repente desapareceu, deixando somente uma mulher no local.

- Tome cuidado, menino.

Louis caiu sentado no chão com o ovo caindo no seu colo logo em seguida. A voz era autoritária e ao olhá-la, ele percebeu que ela combinava com a mulher.



Ela respirou fundo e se abaixou na altura do menino, porém os seus olhos por detrás dos óculos estavam focados no ovo. Ela tocou de leve do lado dos seus óculos e soltou um suspiro conforme se levantava.

- Esta tudo bem com o ovo, apesar de eu não ter dados o suficiente para saber qual é o pokemon. O que você esta fazendo perdido por aqui? É longe de quase tudo! Você é de Sweetsop?

Ela passou a mão pela saia e olhou em volta. Os pokemons do outro lado do rio já tinham ido embora. Ela estendeu a mão para ajudar ele a se levantar, porém a mão esquerda abraçava um aparelho que o menino nunca tinha visto antes.

- Me chamo Loise, muito prazer.

Eu admito ter ficado meio envergonhado e confuso com tudo que aconteceu nesses últimos instantes. Provavelmente o cansaço estava pregando peças na minha mente. Num segundo o riacho na minha frente parecia rasinho o suficiente para, uma vez sentado, molhar só minha bunda. Em pé, só molhava meus pés. Mais foi só andar poucos metros que o pequeno riacho se tornou um rio de profundidade respeitável que poderia causar um sério afogamento em quem não soubesse nadar. Sorte que eu sei, mesmo que tenha descoberto isso só agora.

Mas por que envergonhado, você me pergunta? Porque na outra margem do rio (Sim, tinha até outra margem. É bem grandinho o safado...) uma pessoa tinha observado tudo e devia estar me achando um grandessíssimo idiota. Quando um dos javalis voltou para terminar o serviço, fui salvo por essa pessoa, que me tirou do riacho. Essa foi por pouco, para mim e para meu amigo ovito.

A mulher que me salvou me repreendeu por ser imprudente (aposto que ela quis dizer babaca). Quando eu olhei para minha salvadora eu fui surpreendido. Sua voz era um tanto ríspida e autoritária e, sim, ela passava esse ar de autoridade e responsabilidade, mas ela também era uma das pessoas mais lindas que consigo me lembrar. Não que isso seja um mérito muito grande, dado meu passado recente. Mas considerando que estou no ápice da adolescência, meus hormônios sabem o que dizem.

- Está tudo bem com o ovo, apesar de eu não ter dados o suficiente para saber qual é o pokemon. O que você esta fazendo perdido por aqui? É longe de quase tudo! Você é de Sweetsop? - ela disse.

- Eu estava indo para Sweetsop quando me perdi. Muito obrigado, senhorita. - balbuciei enquanto ela me ajudava a levantar.

Eram meias verdades, eu sei, mas não acho que me declarar um fugitivo iria ajudar a causar uma boa primeira impressão nas pessoas. Eu não iria tocar no assunto até descobrir de quem estou fugindo e principalmente o porquê. Ela se apresentou.

- Prazer Loise, meu nome é Louis. Coincidência, não? - disse sorrindo - E então, o que você está fazendo por essas bandas já que é tão afastado da cidade? - questionei. Assim como ela não via motivos para eu estar aqui, diria o mesmo dela e ela não parecia estar perdida. Analisando o resto do seu corpo depois de conseguir parar de encarar seu rosto angelical, percebi que segurava um apetrecho curioso.

- O que é isso que está em suas mãos? - indaguei. Dependendo de suas respostas, iria pedir que me guiasse até a cidade. Já mostrei não ser muito bom em sobreviver sozinho na floresta. Uma ajudinha até que iria bem...

Loise logo perdeu a atenção em Louis quando o seu aparelho apitou. Ela o levantou e começou a caminhar lentamente acompanhando o rio. Apesar de tocar rapidamente na tela do aparelho, ela ainda tinha tendo de passar a mão no cabelo e arrumar os seus óculos e ainda conversar com o menino.

- Coincidência... ah...claro.... – Ela franziu a testa e então suspirou, abraçando o aparelho novamente. – Eu estou buscando um Driphin, mas acho que a temporada de viagem deles já terminou. Aquele idiota do Abel me passou a data errada, não que seja culpa dele, ele é muito novo, não deveria ter sido convidado para o cargo. Mas acho que isso não te interessa.

Ela sorriu e passou a mão no ovo que Louis trazia consigo. Em seguida o olhou de cima a baixo conforme ele lhe indagava sobre o seu aparelho. Ela parecia analisar se valia a pena responder e por fim deu um sorriso.

- É difícil achar pessoas que se interessem por tecnologia em Bennoh. Bem, isso é um K-pad, digamos que é um aparelho de auxílio pessoal e personalizável. Invenção minha, pelo menos fui eu que pedi o desenvolvimento dele. Esta em fase beta ainda, assim como a pokedex. Bem, acho que posso confiar em você, pelo menos para isso Louis.

Loise retirou uma mochila das costas e dela dois aparelhos, os quais ela entregou para o menino, assim como seis pokebolas. Em seguida ela colocou a mochila nas costas novamente e olhou para Louis, dando alguns segundos para ele admirar os novos brinquedos.





- Esses são o Kpad e a Pokedex. Bem, a graça do Kpad é você descobrir como ele funciona, mas por enquanto ele só tem os menus básicos para você se cadastrar. Outros apps você deve encontrar e baixa-los. Desde mapas até ultrassom, muitos estão sendo desenvolvidos. Tem acesso a internet e funciona para conversar via rede wireless e.....bem, Bennoh não tem rede então para conversar deve ser necessário um Centro Pokemon, o que nos leva ao segundo aparelho e ao meu pedido de ajuda.

Ela suspirou e ajeitou os óculos, em seguida apertou um botão na lateral da pokedex e a imagem de um menino loiro de jaleco branco apareceu acima holograficamente. Ela o olhou com raiva e em seguida relaxou os ombros.

- Esse é o professor de Bennoh, o digníssimo Abel. Ele deveria estar te dando esses equipamentos, mas eu perdi contato com ele então eu mesmo estou te dando essa iniciação. Então, essa pokedex, assim como todas as outras, esta completamente vazia. O ultimo professor de Bennoh morreu num acidente que teve no seu laboratório e todas as suas pesquisas se perderam. Então gostaria de lhe pedir que a preenchesse conforme encontrasse novos pokemons. Ela é completamente editável, desde altura até descrição e fotos do pokemon. Somente o nome deles que já foram definidos.

Ela voltou a caminhar, esperando que o menino a acompanhasse. Seu caminhar era belo, como se ela estivesse numa passarela, mesmo andando de salto na grama.

- Sabe, acho que você tem potencial para se tornar uma grande pessoa. Posso ver nos seus olhos e no meio como lidou com a situação alguns minutos atrás. O pokemon que nascer desse ovo tem muita sorte. Se incomoda de eu te acompanhar até Aweetsop?

Ela deu um sorriso, seria interessante conhecer mais daquele menino tão promissor. Mesmo por que ele deveria estar cheio de dúvidas e tirar dúvidas era um dos hobbies que Loise mais gostava.